Sobre livros, filmes, séries

 Antes, os livros eram adaptados para o cinema, algumas vezes para o teatro, caso de "Alta Fidelidade" (Companhia das Letras, R$ 32,99), que virou teve filme e montagem teatral, além de ganhar uma série televisiva com duração de uma só temporada, 25 anos depois do lançamento do romance do inglês Nick Hornby. Hoje, muitos livros podem chegar antes às telinhas, caso de "Bridgerton", baseado no primeiro de uma série de romances açucarados com tom medianamente erótico da norte-americana Julia Quinn. Comparar as versões sempre é tentador para leitores e espectadores. A indústria do entretenimento (literário ou visual) agradece.


A estreia da série da Netflix que adaptou "O duque e eu" (Arqueiro, R$ 36,90), contando a paixão de Daphne Bridgerton pelo aristocrata com quem se casa, fez vender 7 mil cópias do livro no Brasil em apenas uma semana. Talvez não faça diferença nos 10 milhões de exemplares que Quinn já vendeu mundo afora com mais de 30 romances sobre mocinhas ingênuas e entusiasmadíssimas para descobrir os enlevos amorosos com homens descritos invariavelmente como "libertinos". Ambientados no início do século XIX, durante a Regência britânica, período em que o Rei George foi afastado do governo por problemas de saúde, os romances de Regência entraram em voga em 1935, nas histórias da escritora inglesa Georgette Heyer. Depois da explosão da Austenmania, em meados dos anos 1990, quando "Orgulho e Preconceito" virou uma febre televisiva no Reino Unido, surgiram as herdeiras de Heyer, entre elas Julia Quinn, com romances mais picantes, esbanjando sensualidade entre os casais. Nada que até então não fosse oferecido em bancas de jornal ou que não se insinuasse em outros romances para moçoilas escritas pela veterana Barbara Cartland.



A produção de alta qualidade de "Bridgerton" despertou a curiosidade de um público nem tão admirador de historinhas românticas, mas que se rende a qualquer roteiro razoável em tempos de confinamento. Um exercício bem mais interessante de transposição literária está na série "Lupin", estrelada por Omar Sy como Assene, um imigrante criado na França, admirador do personagem Arsène Lupin, lançado pelo francês Maurice Leblanc em plena Belle Époque com "Ladrão de Casaca" (Zahar, R$ 39,90). Na série, o órfão Assene cresce lendo as aventuras de Arsène Lupin, ganhando a vida como o mestre dos disfarces e da autossuficiência, enquanto busca justiça para o pai, acusado de um crime que não cometeu. Quem tiver curiosidade sobre o cavalheiro-ladrão vai encontrar deliciosas novelas e contos, em edições cuidadosas, como na coleção Clássicos Zahar.


Lançado nos cinemas brasileiros em plena pandemia, "A verdadeira história de Ned Kelly” , o mais recente filme enfocando a vida do célebre salteador australiano, deve chegar aos streamings em breve. E vale ser visto, assim como “A história do bando de Kelly” (Record, R$ 39,90), de Peter Carey, que levou o Booker Prize em 2000. O livro copia o estilo do próprio Ned Kelly na famosa carta de Jerilderie, um manifesto em que ele justificava publicamente sua trajetória de fora da lei. Interessado na forma empregada por Kelly para esclarecer por que havia se tornado uma ameaça para a sociedade em apenas 25 anos de vida, Carey criou uma carta-testamento repleta de erros de pontuação e ortografia, deixada pelo rapaz para a filha, às vésperas de ser enforcado. O filme, salpicado por estrelas do momento, entre eles os britânicos George MacKay, interpretando Ned Kelly, Nicholas Hoult e Charlie Hunnam, encarnando seus incansáveis perseguidores, tem a participação especial do neozelandês Russel Crowe, roubando todas as cenas em que aparece. O tom desolador da paisagem australiana se harmoniza com os relatos literários fortemente marcados pela oralidade que pontuam as cenas.

22/02/21

Comentários

Postagens mais visitadas