Folia na rede

 Este ano não haverá carnaval, fantasia, samba nas ruas, só suor e cerveja. A causa é mais do que justa, a Covid, a falta de empenho dos governantes de tantos lugares em decretarem isolamento forçado, embora boa parte das pessoas tenha que se arriscar diariamente nas ruas para trabalhar e facilitar a rotina de quem se mantém confinado. Embora duvide que o brasileiro aproveite os dias de folga para retiros espirituais, viagens e reflexões sobre a existência, vão daqui algumas sugestões de leitura, que cairiam bem até entre um bloco e outro. Boa folia!!!

Calote (Mondrongo, R$ 38 ), de Leonardo Valente, começa com um tom desesperador ao tratar do endividamento como forma de sobrevivência de uma viúva e seus dois filhos adolescentes. Aos poucos, todos os endividados do país vão à falência e as regras do jogo têm de virar, já que não existe movimento econômico sem aquela parcela da população. Apresentado pelo autor como uma distopia, o romance é uma divertida alegoria do que poderia acontecer se, um dia, todos os destroçados pelo sistema financeiro se insurgissem contra o capitalismo.

A teoria King Kong (N-1 Edições, R$ 38), de Virginie Despentes, com seu início arrebatador (“Escrevo a partir da feiúra e para as feias,  as caminhoneiras, as frígidas, as mal comidas, as incomíveis, as histéricas, as taradas, todas as excluídas do grande mercado da boa moça”), lançou, em 2016, um manifesto contra o machismo e a submissão das mulheres aos modelos de comportamento e estética determinados pela sociedade.  Coalhado de referências pop, o texto discute a adequação feminina aos papeis o entendimento do feminino contemporâneo, questionando a adequação das mulheres a tantos papeis, mesmo as feministas que se espelharam em pioneiras da causa, como a escritora Rose Marie Muraro (1930-2014), que, em 1990, a partir de uma pesquisa sobre sexualidade, decidiu escrever Os seis meses em que fui homem (Rosa dos Tempos, R$ 38,41), em que traça o panorama econômico, histórico e social da condição da mulher no planeta. O título se refere à primeira incursão de Rose Marie como dona de uma editora, cuidando não só de textos, mas dos encargos empresariais, algo que mulheres de sua geração raramente tratavam.

Um pouco mais jovem, a chilena Isabel Allende evoca sua trajetória pessoal em Mulheres de minha alma (Bertrand Brasil, R$ 37,40), sem deixar de falar em feminismo, envelhecimento e amores. A cada página, ela recorda as mulheres que a inspiraram, como a mãe, Panchita, a filha Paula e sua agente Carmem Balcells, além das romancistas Virginia Woolf e Margaret Atwood. As reflexões chegam aos tempos da Covid-19, esbarrando nas revoltas sociais e na crítica direta ao neoliberalismo, nessas  memórias bem-humoradas e sempre poéticas.

Com mais de 1,4 milhão de exemplares vendidos na França e publicado em 30 países, A trança (Intrínseca, R$ 49,90), de Laetitia Colombeni, entrelaça as histórias de Smita, uma indiana de casta baixa que vive de recolher excrementos e quer dar vida melhor para a filha, a siciliana Giulia, que precisa assumir o negócio falido do pai, e a advogada canadense Sarah, que adoece justo quando luta para subir na carreira.

2021 começa na próxima semana. Evoé, Momo!!!


12/02/2021

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