Lista de Natal para divagar na pandemia

 Em tempos de – ainda – algum isolamento, bom é ganhar presentes de fruição duradoura, como, é claro, livros! Enquanto se cultiva a paciência diante do coronavírus, as livrarias e editoras lançaram uma campanha de Natal, oferecendo bons descontos nas compras presenciais e on-line. É procurar – sem pressa – o título mais adequado para cada leitor.

Nascido em 1921, durante a epidemia de gripe espanhola, o maior pensador vivo da atualidade, Edgar Morin, descreve em É hora de mudarmos de via – As lições do coronavírus (Bertrand Brasil, R$ 21) os momentos de ‘fim de mundo’ que conheceu ao longo de 99 anos. O  vírus, ao paralisar o planeta, provou o quanto a humanidade é frágil, diz Morin. Antes dos anos 1970, o homem acreditava haver dominado a natureza. E se depara com a degradação ambiental. A Aids derruba a arrogância da ciência, que pensava  ter eliminado vírus e bactérias, enquanto a grande crise de 2008 desmoraliza as predições dos economistas de um futuro tranquilo. Por fim, em 2020, a humanidade redescobre epidemias no sentido medieval e se curva diante do vírus.  O volume é fininho, mas cada linha leva à reflexão sobre a necessidade de eliminar a desigualdade social e preservar a Terra, sob pena de fim da espécie.

Viver num lugar violentíssimo faz do brasileiro quase indiferente ao absurdo número de assassinatos no país. Em 2019, morreram assassinadas 41.635 pessoas, sendo 75% delas negras. Desses assassinatos, 13% foram cometidos por policiais. No primeiro semestre deste ano, houve 25.712 homicídios,  exatamente 1,7 mil a mais do que o número registrado no mesmo período de 2019. Em março de 1918, a execução da vereadora carioca Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, indignou o Rio de Janeiro. Marcando os mil dias do assassinato da vereadora e do motorista, os jornalistas Chico Otávio e Vera Araújo lançaram Mataram Marielle – Como o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes escancarou o submundo do crime carioca (Intrínseca, R$  49). O minucioso dossiê sobre o caso traz o passo a passo das investigações policiais e o registro do crescimento das milícias na cidade, onde 5 pessoas são assassinadas por dia diante de uma população acuada pela cultura da violência que vigora no Brasil atual.

A arte ajuda a respirar nesta época tão dura. A beleza de um instrumento  que ainda nos traz a sonoridade da música de outros séculos está em O cravo do Rio de Janeiro do século XX (Riobooks, R$ 78). A ideia dos autores, os cravistas Marcelo Fagerlande, Marya Pereira e Maria Aída Barroso, era mostrar a presença do instrumento antes da década de 1960, quando ganha destaque na cena musical carioca com o ressurgimento do interesse por música barroca. A pesquisa detalhada rendeu um volume ricamente ilustrado, com relatos deliciosos para músicos e quem gosta da história da cidade, como o uso de um cravo no cinema Capitólio, nas sessões do filme – mudo –  Monsieur Beaucaire, estrelado por Rodolfo Valentino.


12.12.2020

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