Para ler e ver

 Neste longuíssimo período de semi-isolamento – quem não foi ao mercado, à farmácia ou visitar alguém em nove meses que atire a primeira pedra -, nunca houve tanto tempo para assistir a infinitas adaptações cinematográficas/teledramatúrgicas  de livros. E não falta quem queira conferir a história original – ainda que concluída a leitura, haja quase a obrigação de dar um veredito: o que é melhor, o livro ou o filme?

Bom mesmo é comparar as duas formas de contar uma história – e gostar de ambas. Nada ortodoxa – Uma história de renúncia à religião (Intrínseca, R$ 44,90), a autobiografia de Deborah Feldman, judia ortodoxa que deixou sua comunidade hassídica, no Brooklyn, em Nova York, insatisfeita pelo isolamento social, inspirou a série da Netflix. O relato ‘vira-página’ hipnotizante traz pouco ou quase nada das aventuras da protagonista televisiva. Filha de um casamento arranjado entre uma judia inglesa hassídica e um nova-iorquino com problemas mentais, Deborah foi criada pelos avós paternos, depois que a mãe abandonou a família. Seu parco conhecimento da “vida lá fora” vinha através de colegas de colégio. Quando acaba o Ensino Médio, é imediatamente casada com um rapaz da comunidade. A rotina estressante de cumprir tarefas domésticas, sem possibilidade de continuar os estudos ou ter uma profissão de sua escolha, acaba levando Deborah a divorciar-se e criar sozinha o filho do casal. A série – excelente – tem mais reviravoltas do que as memórias de Deborah Feldman e torna-se peça única, independente do relato real.

Em ficção, geralmente, a  fidelidade ao texto original é maior. Pátria (Intrínseca, R$ 54,90), o contundente romance de Fernando Aramburu sobre a amizade que se rompe em torno de causas políticas no País Basco, virou série da HBO, respeitando ao máximo os diálogos, a trama e até nas nuances comportamentais descritas pelo autor. Enquanto o livro é contado por diferentes narradores, que apresentam as contradições e as paixões do nacionalismo,  a telessérie dá voz a cada personagem para discutir ações criminosas, o que é terrorismo e a independência de diferentes nações.

E quando o filme é um sucesso que vira livro? Acontece, principalmente com desenhos animados para crianças – ou o universo literário  paralelo criado a partir de Guerra nas Estrelas, de George Lucas, ou livros infantis desenvolvendo os personagens de Piratas do Caribe. Depois de ganhar o Oscar de melhor curta-metragem de animação, Matthew A. Cherry decidiu transformar  Amor de cabelo (Galerinha, R$ 49,90) em livro para crianças pequenas.  Ao falar sobre as tentativas de uma menininha e seu pai para fazer um penteado com muito estilo antes de irem encontrar a mãe, Cherry traz uma inusitada e doce abordagem sobre o amor, sofrimento e as relações familiares na atualidade.

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