Ser mãe é ler no paraíso

Ainda dá tempo de correr a uma livraria e honrar a segunda maior data comercial do ano, buscando uma boa leitura para sua mãe, que certamente vai preferir um livro a um jogo de panelas – o que, convenhamos, só alegra o fabricante e o vendedor… Ah, sua mãe não gosta de ler? Esqueça os bombons, os perfumes e as flores, que acabam rapidinho. Dê a ela algo duradouro, a história em fotografias de Chico  Buarque, um dos senhores mais amados pelas brasileiras de 15 a 90 anos. É caro, mas sua mãe lhe deu a vida e muito mais em brinquedos e roupas que não duraram mais que dois meses na sua pré-adolescência.
Revela-te, Chico: uma fotobiografia  (Bem-te-vi, R$ 145) conta a vida do maior artista brasileiro (da atualidade) desde a infância, trazendo momentos e encontros importantes na MPB, além da trajetória pública e pessoal.  Os belos olhos azuis se tornaram verdes num retrato assinado por Di Cavalcanti, mas as tonalidades podem ser conferidas em 210 fotografias de mais de 50 profissionais. A seleção é do designer Augusto Lins Soares, que pesquisou durante dois anos os arquivos do compositor e de sua família, além de usar material de revistas e capas de discos.
Em Carta à Rainha Louca (Alfaguara, R$ 49), Maria Veléria Rezende fala da condição de um tipo específico de mulher, no Brasil Colonial: a que não se casou por falta de dote e que, como branca, não servia para escrava. Essas eram as “sobrantes”, levadas para conventos pela ausência de função na sociedade livre. A origem do romance é real:  em Portugal, ela encontrou um processo contra uma mulher que mantinha um convento clandestino para acolher essas mulheres, na região das minas brasileiras. Daí surgiu a fictícia Isabel das Santas Virgens, que escreve à Rainha Maria, a Louca, em 1789, relatando seus tormentos em um convento em Olinda.  O maior trabalho, conta a autora, foi mesclar o vocabulário do setecentos com a linguagem atual para interessar o leitor contemporâneo, enquanto traça um panorama dos primórdios de uma nação.
A envolvente saga da húngara Edith Eva Eger para sobreviver à fome e aos trabalhos forçados em campos de concentração nazistas, na adolescência,  é mais do que um relato sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial.  A bailarina de Auschwitz (Sextante, R$ 44,90) é uma história de superação real entra tantas dos judeus que precisaram recomeçar a vida de forma totalmente diferente da que conheceram antes do Holocausto. Hoje, Edith Eve Eger, com mais de 90 anos, mora com a família nos Estados Unidos, onde trabalha como psicóloga, atendendo a veteranos de guerra e vítimas de diferentes traumas.   Mesmo sem concessões à autocompaixão, não há como não se comover com a barbárie a que Edith e tantas outras pessoas foram e são submetidas ainda hoje.
Fazer graça com a história brasileira serve de bálsamo para enfrentar o momento atual. Breve história bem-humorada do Brasil (Record, R$ 34,90), do jornalista Ricardo Mioto, traz na capa um Pedro II tatuado e de cabelo com corte modernoso – e são as semelhanças da espécie humana que o autor quer enfatizar por todo o texto. Resgata ainda figuras que passam longe dos bancos escolares, como Diego Dias, que, mal desceu em Porto Seguro, em abril de 1500, já se entrosou com os moradores locais e dançou com os índios, segundo conta Pero Vaz de Caminha em carta ao rei Dom Manoel. Entre piadas e comparações com os desacertos da modernidade, o autor fala do temperamento debochado e festeiro dos nascidos em Pindorama até a ascensão de Michel Temer ao poder. Se estendesse ao primeiro semestre de 2019, teria que escrever outro volume.

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