A salvação do planeta

Em 1992, Márcio de Souza lançava Breve história da Amazônia – um relato sucinto sobre a região, desde os tempos pré-colombianos até os últimos anos do milênio. O livro surgiu ao buscar material bibliográfico para um curso sobre a Amazônia que Márcio ministraria na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Encontrou livros com a história de nove países diferentes, dos estados brasileiros que compõem a região. A mais recente edição de História da Amazônia – Do período colombiano aos desafios do século XXI (Record, R$ 54,90) trata o território ocupado pela floresta e seus povos como se formassem um corpo único,  que se impõe além das fronteiras políticas.
O livro original tinha 120 páginas. O atual chega a 400 e, mesmo privilegiando os acontecimentos em solo brasileiro de uma área que foi disputada por ingleses, espanhóis, franceses, holandeses e irlandeses, traz aspectos dos oito outros países que compõem a Amazônia – Equador, Peru, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Não faltam lendas desmistificadas como a ascendência chinesa dos habitantes das margens do rio, que, ao contrário do que se divulgou por muito tempo, nunca foi um vazio demográfico. Segundo Márcio de Souza, os europeus encontraram comunidades de mais de mil habitantes, que, geralmente, se comunicavam em até cinco idiomas diferentes com os vizinhos de outros grupos. Apesar de haver um sistema de classes sociais incipiente, os indígenas não conheciam o conceito de miséria. Mesmo assim, até hoje o olhar sobre os primeiros habitantes da terra ainda é condescendente como as cartas de exploradores que os descreviam como povo “acriançado”.
Os embates pelo território – que continuam na atualidade – tiveram vitórias sucessivas dos portugueses, que se impuseram na maior parte da região, desrespeitando tratados medievais.  Os indígenas resistiram, mas acabaram, em sua maioria, aculturados ou mortos. O domínio português interiorizou vários grupos. Alguns ainda se mantêm reclusos, sem contato com brancos. Depois do breve ciclo da borracha, que levou os coronéis locais a construírem palacetes em Belém e em Manaus, o desenvolvimento da região foi objeto de diferentes políticas governamentais. Tão mal planejada quanto a estrada Transamazônica foi a criação da Zona Franca de Manaus, que fez a população da cidade  triplicar em dez anos. Se os índios não conheciam a miséria, hoje muitos dos moradores da metrópole vivem em favelas paupérrimas.
Essencial para a salvação do planeta, a Amazônia corre riscos severos de desmatamento com os avanços da extração mineral e a expansão do agronegócio, alerta Márcio de Souza. Advertência que o mundo leva a sério. Esta semana,  Alemanha e Noruega cortaram investimentos para a proteção da Floresta Amazônica com a divulgação de índices que apontam uma perda de 5.879 quilômetros quadrados nos últimos doze meses –  40% a mais do que no mesmo período do ano anterior, em território brasileiro.

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