Leituras para desarmar preconceitos

Em algum momento no futuro, pensaremos no período iniciado em 2015 como tempos de muita paixão política. Cisões em famílias e rupturas de amizades à parte, a convivência de muitos desses grupos permanece, ainda que o conflito seja a palavra de ordem. Quando um amigo me pediu sugestões de livros a serem dados aos adversários políticos de uma determinada corrente, pensei em quatro títulos. Na verdade, todos podem e devem ser lidos por qualquer pessoa de qualquer corrente ideológica, pois estimulam a reflexão sobre os perigos do autoritarismo e do entendimento para conviver com a diversidade.
O fascismo eterno (Record, R$ 29,90), de Umberto Eco, pode ser encontrado em diversos sites na Internet, mas merece ser lido, sublinhado, guardado. O texto é de uma conferência que o filósofo italiano fez na Universidade de Colúmbia, em 1995. Para Eco, a liberdade é uma tarefa inacabável e da qual não se pode descuidar, sob pena da repetição do mesmo regime de exceção. O medo das diferenças, a oposição à análise crítica, o machismo, o controle da sexualidade e a exaltação de um líder são algumas das catorze características do fascismo que ele aponta, alertando para a ameaça constante de sociedades democráticas serem dominadas por um sentimento discricionário e reducionista, calcado na desigualdade.
Sejamos todos feministas (Companhia das Letras, R$ 19,90), da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, também começou como conferência num TED, em 2012, foi amplamente divulgado pela Internet e transformado num livrinho em 2014. Romancista celebrada, que vive nos Estados Unidos e tem como temas recorrentes na ficção a condição feminina e a falta de pertencimento do imigrante – tanto em sua terra natal quanto na que escolheu ou teve que viver –, Chimamanda observa as semelhanças do papel social da mulher em quase todo o planeta. A subserviência, o estímulo às mulheres para que agradem homens, a quantidade de livros e artigos em jornais ou revistas ensinando como devem se comportar para conquistar a simpatia masculina são alguns dos aspectos que moldam a falta de ambição feminina, diz Chimamanda.
Publicado em mais de 40 países, traduzidos em mais de 70 idiomas, com mais de 35 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo (cerca de 16 milhões, só no Brasil), O diário de Anne Frank (Record, R$ 49,90 ) teve novos trechos do manuscrito original anexados nas últimas edições. Otto Frank, pai da adolescente judia que manteve um diário entre junho e 1942 e agosto de 1944, relatando o cotidiano de duas famílias num esconderijo em Amsterdã, até serem descobertos e presos pelos nazistas, censurou as partes em que a filha reclamava da mãe e tratava de sexo. Nascida na Alemanha e radicada na Holanda, onde o pai foi trabalhar, buscando um ambiente onde os judeus pudessem viver sem a opressão nazista, Anne morreu aos 15 anos, num campo de concentração alemão.
A situação dos judeus na Segunda Guerra Mundial acontece hoje quando, diariamente, 44 mil pessoas abandonam seus lares e se somam à multidão de 68,5 milhões de deslocados pelo planeta. Enquanto a maioria  – 40 milhões – permanece em movimento nos próprios países de origem, 25,4 milhões de pessoas constituem a massa de refugiados mundo afora. Desses, pelo menos a metade vem do Sudão, Afeganistão e da Síria.  A paquistanesa Malala Yousafzai, a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, ela própria uma deslocada, reuniu histórias de mulheres e adolescentes que passaram pela experiência de migração em Longe de casa – Minha jornada e histórias de refugiadas pelo mundo (Seguinte, R$ 39,90).  Leitura que pode ajudar a derrubar e transformar os preconceitos em aceitação e solidariedade.

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