Neste ano novo, revire um sebo!

O ano brasileiro começa na próxima semana, com as listas de resoluções que, tradicionalmente, falam no empenho em comer menos e exercitar-se mais. E, no país em que o índice de leitura é de 2,43 livros/ano por habitante, muita gente tem o objetivo de “ler mais”, atividade para a qual parece faltar tempo. Um tempo que surge  quando o livro certo encontra o seu leitor.
Conquistar esse leitor que ainda não se tornou um dependente de leitura tem sido o objetivo dos clubes de assinantes de livros. O de maior sucesso, a TAG (https://taglivros.com ), desde 2014, ultrapassou os 35 mil filiados, enviando a eles títulos indicados por especialistas que nem sempre são da área literária.  O carioca Garimpo (https://garimpoclube.com.br) também têm arrebatado leitores que seguem as indicações de curadores para diferentes gêneros, incluindo o infantil.
Quem prefere fazer suas próprias descobertas, pode fuçar sebos – presencialmente ou pela Internet – e buscar livros muito interessantes, que, no entanto, não chegaram a causar grande alarde quando publicados por aqui.  Acabadora (Alfaguara, R$ 32,90), de Michela Murgia, é um deles. Fenômeno de vendas na Itália, onde ganhou diversos prêmios, como o Campiello, em 2010, teve recepção discreta no Brasil. A protagonista, Maria, é criada  por uma costureira que, à noite, trabalha como “facilitadora de mortes” nos doentes terminais de uma fictícia aldeia na Sardenha, nos anos 1950. Ao crescer, Maria deverá suceder a mãe na função, uma prática conhecida, aceita, porém jamais comentada pelo povo do vilarejo. Em 1944, o ofício já era mencionado pelo português Miguel Torga em Novos contos da Montanha (Nova Fronteira, R$ 31,90). O conto O Alma-Grande conta a história do “abafador”, o exterminador de moribundos numa “terra de judeus”.
Em 2004, a jornalista espanhola Rosa Montero lançou, na Festa Literária de Paraty (Flip),  A louca da casa (Agir, R$ 40,90), uma coletânea de textos sobre literatura, escritores e personagens que teve excelente vendagem no país e diversas reimpressões. O título vem da frase de Santa Teresa de Jesus – “A imaginação é a louca da casa” – e dele Rosa Montero parte para discutir processos de criação, entremear trechos possivelmente autobiográficos com teses que se embaralham como exercícios de raciocínio lógico.  Nenhum de seus outros trabalhos,  ficcionais ou ensaísticos, despertou tanto interesse, mas, vez por outra, são editados no Brasil. Uma pequena preciosidade é Te tratarei como uma rainha (Nova Fronteira, R$ 34,90), que, publicado em 1983 na Espanha, chegou  aqui em 2014. Da notícia do assassinato de um solteirão por uma cantora de boleros surgem personagens cujas histórias – dramáticas como uma canção que conta as dores de amor – se superpõem para esclarecer os motivos do crime.
Mais tradicional na forma de desenvolver uma novela policial, o suíço Joël Dicker criou um thriller dos tempos atuais: extenso e com reviravoltas a cada capítulo. Em O desaparecimento de Stephanie Mailer (Intrínseca, R$ 59,90), um detetive, na semana de sua aposentadoria, é desafiado a reabrir um caso que considerava concluído vinte anos antes. Numa cidadezinha de veraneio perto de Nova York, novos crimes vão se sucedendo assim que a jornalista Stephanie desaparece, depois de confrontar as autoridades locais, afirmando que um inocente foi considerado culpado por uma chacina que não cometeu. Apesar do excesso de relatos paralelos, personagens bem delineados e uma trama cuidadosamente estruturada prendem o leitor à narrativa.

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