Seleção Literária - Final da Copa

or pouco a lista de seleções literárias de países participantes da Copa do Mundo não fica desfalcada dos finalistas. Isso porque encontrar um escritor croata publicado no Brasil é quase tão difícil quanto imaginar que a Croácia faria a final da Copa contra a França. Pródiga em poetas e dramaturgos, a literatura croata se confunde com a dos demais países que formaram a antiga Iugoslávia. Há uma multiplicidade de escritores sérvios e bósnios, alguns de Montenegro, porém, da Croácia, aparentemente, não chegaram ao Brasil. Em Portugal, no entanto, eles chegaram. Assim, salvamos a final.
Croácia – Baba Yaga pôs um ovo (Editorial Teorema, 19 euros – pode ser importado online pela Livraria Cultura), de Dubravka  Ugrešić, parte da viagem que a escritora fez à Bulgária em 2007, para tratar de velhice, identidade feminina, segredos e amores, temas que estão na segunda parte do livro, que narra a estada de três mulheres idosas durante uma semana numa estação de águas.  Baba Yaga, uma velha bruxa pavorosa  da mitologia do Leste Europeu, simboliza as mulheres invisíveis do mundo inteiro – inférteis e ignoradas pela sociedade.
França/Marrocos – Cantiga de Ninar (Tusquets Editores, R$ 32,80), de Leila Slimani, traz uma tragédia urbana mais comum (felizmente) na ficção do que na vida real: o assassinato de duas crianças pela babá aparentemente perfeita contratada pelo casal de classe média para cuidar dos filhos e da casa. Publicado em mais de trinta países e com mais de 600 mil exemplares vendidos na França, o romance ganhou o Prêmio Goncourt em 2016 – pela primeira vez concedido a uma autora nascida em Marrocos e radicada na França desde a adolescência.
Senegal – Mutilada (Rocco, R$ 24,40), de Khady, discute as tradições religiosas e sociais de subjugação das mulheres. A mutilação genital feminina é praticada em diversos países, mesmo quando proibida por lei e sem qualquer base em religião. A militante feminista senegalesa Khady descreve neste depoimento o sofrimento pela retirada de seu clitóris aos 7 anos de idade e de sua conscientização sobre a misoginia de sua cultura. Casada aos 17 anos com um primo, ela foi para a França, onde rompeu com os costumes ancestrais e tornou-se ativista.
Dinamarca – A exceção (Intrínseca, R$ 39,90), de Christian Jungersen, aborda o assédio moral num ambiente de trabalho que deveria estar completamente distanciado de tal prática – uma organização humanitária. Por trás do respeito às individualidades que cada um dos cinco profissionais da ONG professa há manipulação, inveja e disputas que bombardeiam qualquer tipo de relacionamento, enquanto tentam descobrir os autores de ameaças neonazistas à instituição.
Coreia do Sul – Por favor, cuide da Mamãe (Intrínseca, R$ 34,90), de Kyung-Souk Shin, trata com muita delicadeza de vários temas da atualidade. Uma mulher interiorana se perde do marido numa estação de metrô de Seul, onde o casal vai visitar os cinco filhos. Enquanto a procuram pela cidade, o marido e os filhos relembram sua vida e repassam tudo o que nunca lhe disseram, concluindo que nunca a conheceram realmente e que precisam recuperar o tempo perdido.

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