Eles, que revolucionaram o século XX


Em maio de 1968, estudantes e trabalhadores franceses se juntaram em greves e manifestações para mudar a política educacional e econômica do país. Vinham embalados por um movimento que começou na então Tchecoslováquia, a Primavera de Praga, iniciada em janeiro daquele ano, quando intelectuais do Partico Comunista local tentaram desvincular a política e a economia da União Soviética. As ideias liberalizantes acabaram aspergindo outros países, sem, no entanto, nem sempre alcançar os efeitos inicialmente desejados. Aquele ano conturbado e rico é relembrado pelos jornalistas Regina Zappa e Ernesto Soto em 1968 - Eles só queriam mudar o mundo (Zahar, R$ 64,90), que ganha nova edição dez anos após seu lançamento.



Em forma de almanaque, o livro traz entrevistas e textos sobre os destaques daquele ano nos campos artístico, esportivo e sociais, no Brasil e no mundo, partindo da Primavera de Praga - que começou no inverno tcheco, em janeiro. Relatando cronologicamente os acontecimentos mês a mês, o livro mostra o desenrolar de situações iniciadas naquela época ou antes, como a Guerra do Vietnã, os movimentos estudantis brasileiros, trazendo de volta um ambiente pautado pelo desejo de mudança. Aquela esperança de tudo se ajeitar decorria da ignorância do futuro, como o que viria depois daquele dezembro, quando o Brasil entraria num período doloroso de perseguições políticas e torturas, com a decretação do Ato Institucional número 5. Como lembrou Regina Zappa em entrevista ao Canal Curta, esta semana, os objetivos de uma revolução não se esgotam com a vitória política, mas na manutenção dos ideais e em sua transformação diante da evolução da história. 

Maio de 1968 combina perfeitamente com Viver bem é a melhor vingança (Autêntica, R$ 49,90), a biografia do jornalista Calvin Tomkins sobre o casal Gerald e Sarah Murphy, dois americanos endinheirados, radicados na Paris da Geração Perdida, antes da Segunda Guerra Mundial. Entre seus amigos e frequentadores de suas casas - em Paris e na Riviera Francesa - estavam Zelda e Scott Fitzgerald, que usou o extravagante par como inspiração para os protagonista de seu romance "Suave é a noite". Embora irritados ao se verem retratados por Fitzgerald em parte do livro - na segunda metade, os personagens tomam as feições do próprio autor e de sua mulher Zelda -, eles jamais deixaram de devotar-lhe sincera amizade, ajudando-o financeiramente, sem aceitar que Scott pagasse as dívidas. Recebendo e hospedando artistas como Eric Satie, Cole Porter, Jean Cocteau, Gertrude Stein e Ernest Hemingway, os Murphy seriam, atualmente, celebridades reverenciadas por quem entretinham e atraíam, apesar de Gerald ter sido considerado um pintor talentoso até abandonar a atividade atormentado pela morte de dois filhos, ainda crianças, enquanto Sara era imortalizada em pinturas de Pablo Picasso. 

Esta coluna foi publicada em fins de maio de 2008, e lembrou também as mortes, naquela semana, dos jornalistas Ramiro Alves, Borges Neto e Alberto Dines, que também foi curador de uma preciosa coleção da Zahar com as obras completas do escritor Stefan Zweig.

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