Cinderela e o feminismo

Na véspera de um casamento de príncipe com plebeia, o sonho de Cinderela continua enfeitiçando os românticos de qualquer gênero. Em Payback – A dívida e o lado sombrio da riqueza (Rocco, R$ 29), a canadense Margaret Atwood afirma que o dinheiro sempre esteve à frente do amor como mola propulsora da criação literária. A  fórmula “moça pobre encontra moço rico” garante o sucesso da ficção – e não apenas a dirigida para mulheres. Mas o romance “rosa”, produzido em escala industrial desde que Guttemberg  inventou a prensa mecânica, se renova e enriquece o mercado editorial, incorporando elementos ao gosto do público contemporâneo.
A busca pela sobrevivência das moças ricas, tema recorrente das narrativas de Jane Austen, têm sido revista por diversas autoras contemporâneas, entre elas a veteraníssima Danielle Steel, que já vendeu 650 milhões de cópias de seus mais de 60 livros, publicados em 69 países, traduzidos em 43 idiomas. Fez fortuna montando histórias de parcos diálogos e pueris descrições de sentimentos, geralmente ambientadas em outras épocas, todas tratando de paixões e sofrimentos. A redenção da mocinha sempre chegará. Em  A Duquesa (Record, R$ 39,90), que se passa durante a Belle Époque, a protagonista de 17 anos cai na sarjeta depois da morte do pai, pois o título de nobreza fica para o irmão mais velho. À jovem inglesa, resta trabalhar como governanta de crianças ricas, até perder o emprego por resistir aos avanços de um playboy.  Vai, então, para Paris, onde abre e administra um bordel de luxo, mantendo, no entanto sua virgindade e integridade pessoal, estimulando o empoderamento de mulheres pobres ainda que pela prostituição. Conhece um homem rico, compreensivo e apaixonado, que lhe trará felicidade e boa situação social, depois de tanta luta para driblar o destino injusto.
As escritoras Laura Conrado e Marina Carvalho escrever a quatro mãos Literalmente amigas (Bertrand Brasil, R$ 39,90), que deixa de lado o eixo do amor redentor para concentrar-se na amizade de duas mulheres que disputam a mesma vaga de trabalho numa editora. Ambientado em Belo Horizonte, onde vivem as autoras, o livro é recheado por referências a séries televisivas e romancistas contemporâneas, como Meg Cabot e Sophie Kinsella. A conquista de um namorado encantador por uma delas – a outra já tem um relacionamento estável – é uma subtrama um tanto insólita em narrativas para mulheres. Neste caso, o mais importante é a realização profissional. Os homens entram como prêmios não tão almejados quanto a reafirmação dos laços entre as personagens.
É quase o mesmo papel dos três exploradores que procuram a Terra das Mulheres(Rosa dos Tempos, 34,90), da pioneira feminista americana Charlotte Perkins Gilman. Lançado em 1915, o romance é narrado por um dos exploradores, encarregado de se espantar como a sociedade de sua época pela comunidade num país tropical onde vivem apenas mulheres com seus bebês. A exclusão dos homens do grupo se faz em nome da igualdade, privilegiando o corpo social. No mundo real, Clube da luta feminista – Um manual de sobrevivência para um ambiente de trabalho machista (Rocco, R$ 39,90), da jornalista Jessica Bennett, cumpre o que promete em seu subtítulo. Com muito humor e salpicado de ilustrações divertidas, o texto disseca as relações sociais entre os sexos no mundo atual, apontando tipos masculinos como o Fiscal da Menstruação – aquele homem que sempre credita a resposta azeda feminina à TPM – o Manja-decote – que se não chega a tocar as colegas, está sempre à beira de passar uma cantada nelas – e as mulheres que se autossabotam, assumindo mais funções do deveriam, apenas para provar sua capacidade para os machistas de plantão.  Em algum perfil, as leitoras poderão bem se identificar.
10/05/2008

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