Amores... Ah... mores!

 A romancista canadense Margaret Atwood diz em Payback – A dívida e o lado sombrio da riqueza (Rocco, R$ 29,00) que o dinheiro – ou a falta dele – sempre esteve à frente do amor como mola propulsora da criação literária. Nesse nicho se enquadraria a fórmula “moça pobre encontra moço rico”, usada tanto em Cinderela, quanto para o desenvolvimento das tramas de Jane Austen, chegando à chick lit contemporânea. No entanto, ainda que as relações amorosas estejam cada vez mais fugazes na sociedade ocidental, o tema continua em destaque, perpassando diferentes segmentos da literatura.

Criadora de alguns best-sellers sobre os desencontros amorosos, a inglesa Jojo Moynes, que abandonou o jornalismo para se dedicar integralmente à carreira de escritora, é uma das mestras do romantismo “rosa” da atualidade. Entre seus feitos está a raridade de emplacar três livros ao mesmo tempo na lista dos mais vendidos do The New York Times. Só seu maior sucesso, Como eu era antes de você (Intrínseca, R$ 30,90), adaptado para o cinema, vendeu mais de 8 milhões de exemplares no mundo inteiro. Destino semelhante deve ter o relançamento de A última carta de amor (Intrínseca, R$ 30,51), cuja adaptação produzida pela Netflix estreia esta semana no streaming. O mistério sobre a identidade do remetente da carta de amor, encontrada por uma repórter 40 anos depois, e a falta de memória da destinatária são os fios condutores deste romance passado em duas épocas.

Amores perdidos têm sido inspiração para os que vivenciaram o enlevo da paixão. Um amor que ficou na história torna poeta quem o experimentou, como o físico carioca Francisco Caruso, autor de diversos livros científicos, tendo dividido com Vitor Oguri o Jabuti em 2007 por Física moderna: origens clássicas e fundamentos quânticos. Em Do amor silenciado e Do amor perdido (ambos da LF Editorial, cada um a R$ 30), Caruso traz as sensações ainda pulsantes da relação erótica inebriada pela delicadeza do envolvimento profundo de duas pessoas.

Com quase 5 décadas dedicadas ao estudo da sexualidade, a psicanalista Regina Navarro Lins reúne em Amor na vitrine – Um olhar sobre as relações amorosas contemporâneas (Best-seller, R$ 26,90) um apanhado histórico e antropológico sobre casamento, adultério, erotismo, exploração sexual e tabus. Montado de forma fragmentária, com informações quase “de almanaque”, o livro, lançado em 2020, ainda fala num mundo pré-pandemia, com relacionamentos abertos, discutindo preconceitos e as normas que impedem a expressão livre do desejo.

Enquanto Regina apresenta a informação e induz, ao trazer o contexto histórico, a crítica contextual dos costumes, o historiador chileno Jaime Hoyl e sua conterrânea, a psicóloga Raffaella di Girolamo Frigerio, que assinam o Guia prático para sair do armário (Appris Editora, R$ 49,90), montaram um alentado manual destinado aos leitores LGBTIQ+. Uma alentada pesquisa sobre a história da homossexualidade, do machismo, da misoginia e do binarismo, entre outros tópicos que envolvem a identidade sexual de pelo menos 7% da população mundial (segundo os autores), dão embasamento a indicações de comportamento em situações geralmente vivenciadas por homossexuais.

Longe de ser um estudo com noções de autoajuda, o Guia não limita as questões de gênero à biologia ou às atividades sexuais. Família, trabalho, filhos, rótulos, religião são alguns dos aspectos abordados pelos autores, que também reproduziram depoimentos de homens e mulheres que hoje assumem abertamente suas identidades sexuais.

E depois de um ano de pandemia, como ficam as descobertas amorosas e as paixões? Amores confinados (Bloco Narrativo, R$ 45) reúne contos de Arnaldo Bloch, Aziz Filho, Daniela Kresch, Gilberto Scofield Jr, João Pimentel, Laïs Mendes Pimentel, Luciana Neiva, Luís Pimentel, Marcela Esteves, Martha Mendonça, Nelito Fernandes, Renata Andrade, Sidney Garambone, Silvio Essinger, entre outros jornalistas e escritores, que falam da rotina no período de maior solidão da humanidade diante de uma doença perigosa.

As histórias falam do desejo de quem não pode mais sair de casa, ou que teme tocar o desconhecido que conheceu ao levar os cachorros para o passeio diário, de um cenário pandêmico que se eterniza, com turmas de colégio reunidas em aulas virtuais, encontros visuais, jamais pessoais. O ambiente circundante torna-se objeto de apego e de verdadeiro amor, de valorização das dificuldades em se acender um cigarro que dificilmente se encontra durante a pandemia. Enquanto o isolamento forçado leva alguns casais a reencontrarem a pulsão amorosa, outros dissolvem os vínculos assim que o isolamento social é encerrado. Um traço comum nos contos está na visão dos autores sobre o amor como principal forma de libertação perante o confinamento.


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