Lista de Natal para aliviar o calor tropical

O calor carioca se apresenta em toda a sua glória. Uma amiga avisa que está na praia, bebendo cerveja e lendo A amiga genial(Biblioteca Azul, R$ 37,72), de Elena Ferrante, enquanto desbravo, sob o ventilador, hesitando entre deixar a leitura e trabalhar, Assombrações (Todavia, R$ 37,72), de Domenico Starnone.  O autor, que já ganhou o maior prêmio literário italiano, o Stregha, em 2001, tem o mesmo estilo arrebatador de Ferrante, pseudônimo que esconderia a tradutora Anita Raja, casada com Starnone. Há alguns anos, Starnone foi apontado como quem estaria por trás dos títulos assinados pelo fenômeno de vendas e crítica até uma investigação jornalística chegar a Anita Raja, cruzando dados do imposto de renda para comprovar a compatibilidade do aumento de patrimônio do casal com o sucesso da Tetralogia de Nápoles.
Assombrações explora as dificuldades de sobrevivência dentro da célula familiar. Um ilustrador idoso vai cuidar do neto de quatro anos para que a filha e o marido saiam em viagem e tentem acertar problemas conjugais. É o mesmo universo explorado por Starnone em Laços (Todavia, R$ 37,72), que trata da separação e da reconciliação de um casal, contada pelo ponto de vista de cada um e dos filhos. Desta vez, o encontro entre avô e neto é uma volta inesperada, indesejada e temida do homem maduro ao apartamento onde cresceu, que encerra as respostas para indagações presentes por toda a vida. A narrativa que faz o leitor perder o fôlego e querer deixar tudo de lado para se enredar na leitura é um dos principais motivos para oferecer este romance como presente de Natal.
Duas maneiras diferentes de contar um clássico estão em O Quebra-nozes (Zahar, R$ 33,52), com a versão original do conto, de E. T. A. Hoffman, e sua adaptação por Alexandre Dumas, no belo volume da coleção Clássicos Zahar – que traz ilustrações de Bertalli criadas para a primeira edição francesa. Lançado em 1816 por Hoffman, o conto O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos  torna-se sucesso mundial a partir de 1844, com a tradução para o francês de Dumas. A consagração como história natalina chega em 1892, quando Piotr Tchaicovsky compõe oito peças para o espetáculo de balé O Quebra-Nozes.  A conhecida história conta a luta de um quebra-nozes enfeitiçado contra um exército de camundongos, acompanhada pela menina Marie, na noite de Natal. A ideia de Hoffman é mantida por Dumas, que a transforma em relato para uma plateia de crianças francesas, apresentando costumes alemães (como a troca de presentes entre 24 e 25 de dezembro, quando na França é em janeiro) e buscando aproximação com o mundo infantil. Hoffman criou a história fantástica, violenta e com o tom assustador dos contos de fadas recolhidos por Grimm.
Na década de 1990, a mexicana Laura Esquivel buscou o realismo fantástico latino-americano para contar o romance impossível entre os protagonistas de Como água para chocolate (Bestbolso, R$ 34,90), que vendeu mais de 4,5 milhões de exemplares no mundo inteiro. Lupita gostava de engomar (Bertrand Brasil, R$ 36,71) traz uma policial baixinha, gorducha, que sofre de incontinência urinária em momentos de tensão, às voltas com um crime político num cenário de violência, religiosidade, tráfico de drogas e corrupção. A cada capítulo, um novo elemento do passado de Lupita surge para explicar sua sobrevivência aos dramas pessoais, ao alcoolismo e à rejeição constante por uma sociedade que exclui pobres fora dos padrões de beleza convencionais.
publicado em 14/12/18

Comentários

Postagens mais visitadas