Leituras para relaxar e compreender o processo eleitoral

Daqui a dez dias o Brasil elege um novo presidente da República. Dois candidatos completamente antagônicos em comportamento e alinhamento político se enfrentam. De um lado, a defesa do Estado a serviço da população; do outro, o povo disciplinado por um Estado forte, com amplos poderes de intervenção na vida dos brasileiros. A simplificação das plataformas pode ser aplicada a qualquer um dos candidatos. No entanto, assim que se enumeram propostas, elas diferem radicalmente.
Diante de diferenças por vezes tênues na conceituação e radicais na aplicação  resta ao eleitor escolhas pautadas por sua própria autoconcepção  de cidadão e simpatias ideológicas. Para ajudar a compreender um pouco da complexa formação social do País vale ler A elite do atraso e  Subcidadania brasileira (Leya, R$  44,90, cada), do sociólogo Jessé de Souza. São duas leituras incômodas, já que o autor desmistifica o “jeitinho brasileiro” e uma sociedade baseada no desprezo da pobreza. Para Souza, a visão do brasileiro como “vira-lata da história e lixo do mundo” retira a autoestima e autoconfiança de um povo, que se prende a cruzadas moralistas contra a corrupção, deixando de lado o problema maior da desigualdade, que se fundamenta no racismo camuflado que domina o Brasil.
O processo eleitoral deste ano dispensou horários de propaganda por televisão e alcançou mais audiência através de mensagens veiculadas para grupos de redes sociais, notadamente o whatsapp, de forma profissional e financiada por empresários, segundo denúncia do jornal Folha de SPaulo. A ilegalidade desse expediente se baseia na força dos usuários das redes, que destroçaram os conceitos de publicidade que vigoraram até a primeira década do terceiro milênio. Superfandom – Como nossas obsessões estão mudando o que compramos e quem somos (Rocco, R$ 56,31) trata de um fenômeno criado pela Internet: as reuniões de fãs de algum produto que, além de compartilhar seus gostos. Esses encontros, que partem das afinidades desses grupos, acabaram determinando dos enredos de séries de televisão até a criação de produtos, como bonequinhos que atendem exatamente ao desejo do consumidor. Essa história recente da influência do fã na produção de “novidades” é contada pela designer Zoe Fraade-Blanar e seu marido, o jornalista Aaron M. Glazer. Ambos são proprietários da Squishable, uma empresa de tecnologia especializada em desenvolvimento de brinquedos de acordo com as preferências da freguesia.
Neste admirável mundo do consumo, há quem ainda continue seguindo os papeis convencionados pelo american way of life, vivendo como se estivesse num subúrbio dos Estados Unidos dos anos 1950. Ambientado num vilarejo no Norte da Inglaterra, Que tipo de mãe você é? (Bertrand Brasil, R$ 39,90) traz uma sociedade de famílias aparentemente felizes e bem estruturadas, abalada pelo rapto de mocinhas de 13 anos, seviciadas por um pedófilo. Por trás das paredes de cada casa elegante, infidelidade e conspirações criminosas são abafadas em nome de um ideal harmônico que jamais existiu. Revelações surgem a cada novo capítulo deste thriller envolvente, perfeito para quem quer escapar da realidade tensa desses dias pré-eleitorais.

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